A Mona Lisa é um dos grandes mistérios da humanidade. Apesar de ser observada por mais de 9 milhões de admiradores todos os anos, em muitos aspectos ela permanece um enigma.
Somente agora, séculos depois de
Leonardo da Vinci concluir sua obra-prima, uma nova e extraordinária tecnologia
nos permite penetrar mais profundamente nas muitas camadas – e segredos –
ocultos sob a superfície da pintura mais famosa do mundo.
Essa investigação revelou o que podem ser consideradas as descobertas mais inesperadas e notáveis da história da arte.
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Francesco Del Giocondo 1465 - 1542 |
Nossas descobertas pioneiras a
respeito do que está por sobre e abaixo do Retrato
de Lisa Guerardini marcam o início de uma nova fase na história da pintura,
e até mesmo na própria história da arte.
Esta exposição destrói o mito e
muda nossa visão da obra. Trata-se de um enorme salto no que diz respeito ao
conhecimento e a história da arte.
Em outubro de 2004, mais de uma
década após ter digitalizado a Mona Lisa
com sua câmera multiespectral, Pascal Cotte apresenta todos os frutos de sua
pesquisa.
Quatro Retratos em Um
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Giulinao de' Médici 1453 - 1479 |
No entanto, Leonardo disse, em 1517, que ele havia pintado o retrato a pedido de Giuliano de’ Médici, seu patrono em Roma, de 1513 a 1516 – um homem sem nenhuma ligação conhecida com Lisa Gherardini.
Como se vê, pode haver uma boa razão para essa incerteza. Graças à tecnologia conhecido como Método de Amplificação de Camadas (LAM), sabemos agora que Leonardo de fato pintou diferentes versões do retrato, sobrepondo umas às outras.
Finalmente, a pesquisa de Cotte reconciliou os relatos conflitantes sobre a identidade de Mona Lisa, mostrando que Leonardo pintou a Mona Lisa em quatro etapas principais:
1- Um esboço inicial de uma desconhecida, ligeiramente maior que o representado na camada final, mas com uma postura semelhante;
2- Um segundo Retrato com Pérolas, que apagou o rascunho original e que se acredita ser uma deusa, santa ou a Madona;
3- O Retrato de Lisa Gherardini, visto por seus concidadãos e descrito pelo artista Giorgio Vasari em 1550, com roupas e penteado à moda florentina de 1502-1506;
4- A Mona Lisa que conhecemos hoje, com a cabeça e o olhar voltados para o espectador, os ombros inclinados para a direita e um véu adicionado ao redor da cabeça e do corpo para mascarar o vestido e o penteado anteriores.
Retrato com Pérolas
Esses tipos elaborados de toucados eram utilizados com frequência ao retratar Madonas no norte da Itália no início do século XVI. O toucado parece ter sido deixado inacabado, depois meticulosamente coberto enquanto Leonardo pintava a camada seguinte.
Apoio de Braço Modificado
O apoio de braço descoberto no esboço de retrato foi modificado no Retrato com Pérolas. O retrato geral era menor, o que obrigou Leonardo a reduzir o tamanho do apoio de braço.
No Retrato com Pérolas sua dimensão era semelhante à encontrada no Retrato de Lisa Gherardini e pode ter sido o primeiro fundamento da Mona Lisa atual.
Um Grampo de Cabelo
Outros Onze Grampos ou Pérolas
A Mão Esquerda
A ponta do dedo anelar é levemente perceptível, à sombra do dedo mínimo pousado contra o apoio de braço.
Pentagrama
Esse é um indício importante, pois sugere que este retrato era de uma deusa, santa ou Madona.
Esboço do Retrato
A primeira pintura na tela que
agora ostenta a Mona Lisa parece ter
sido um experimento. Apesar dos esboços preparatórios, os planos de Leonardo
não estavam estabelecidos em definitivo. Existem, por exemplo, pelo menos duas
versões do apoio de braço. Embora o processo LAM permita amplificar as imagens
das camadas inferiores, ele não é capaz de recriar o que não existe mais.
Vislumbramos apenas o que restou:
aquilo que Leonardo involuntariamente abandonou. Por isso, é difícil saber se
Leonardo concluiu ou não esse “esboço” de retrato inicial.
Tamanho e Posição
O tamanho da cabeça, rosto, mãos, mangas direita e apoio de braço parece confirmar que o retrato inicial era maior que o Retrato de Lisa Gherardini.
Tudo o que resta do apoio de
braço é uma pequena linha curva na borda direita da pintura, no mesmo nível do
cotovelo esquerdo – mas, mesmo com tão poucos detalhes, fica claro que sua
posição não é compatível com a posição das mãos de Mona Lisa.
É impossível saber ao certo qual
era a intenção de Leonardo com este retrato original, mas Cotte acredita que
ele pode representar um esboço para a segunda camada, Retrato com Pérolas.
Da mesma forma, não se pode estabelecer a data exata de sua criação, embora certamente deva ser anterior a outubro de 1503, quando o Retrato de Lisa Gherardini foi mencionado pela primeira vez por escrito.
Contornos do Rosto e do Nariz
A área encontra-se parcialmente
apagada, demonstrando a intenção de Leonardo de alterar a pintura com um
segundo projeto de retrato.
A posição dos olhos pode ser
deduzida por aproximação a partir da área escurecida, que fica logo acima de
sua posição no retrato final de Mona Lisa.
Essas observações, por sua vez, nos ajudam a deduzir a posição do nariz. A ponta do nariz corresponde exatamente ao nível do horizonte levemente curvado, cujo contorno é claramente visível aqui.
A Mão Direita
A mão direita é bem maior no
esboço do retrato que na atual Mona Lisa,
o que coincide com os planos para um retrato maior. Os dedos sem dúvida
terminavam no apoio de braço que, como já vimos, estava posicionado mais abaixo
em relação à imagem final.
A comparação com a mão direita de Mona Lisa dissipa qualquer dúvida quanto à autenticidade dessa descoberta notável. Os dedos da mão esquerda estendem-se para baixo, como se segurassem um lenço ou xale por sobre os joelhos.
Mona Lisa
A transformação do Retrato de Lisa Gherardini na Mona Lisa não foi o resultado de meros pentimenti (pequenas correções e
ajustes). Leonardo refez a pintura de uma maneira única e inovadora, como
somente ele seria capaz. Ele não pintou um retrato completamente novo, mas
transformou o antigo.
Empregando finas camadas de tinta
translúcida, ele alterou o Retrato de
Lisa Gherardini sem jamais apagá-la completamente. O Retrato de Lisa Gherardini se
combina e interage com a camada de tinta da superfície para moldar nossa
percepção final da obra notável que conhecemos como Mona Lisa.
Leonardo da Vinci utilizou
velaturas de ocre para a metamorfose do rosto e azinhavre translúcido para o
véu que cobre o toucado e o vestido. Enquanto o Retrato de Lisa Gherardini está desbotado e parcialmente encoberto,
partes dele continuam visíveis e oferecem elementos importantes à nossa
percepção visual da Mosa Lisa.
Essa técnica revolucionária de
pintura em camadas provavelmente constitui um fato importante na impressão de
mistério que há tempos tem sido atribuída à Mona
Lisa.
Sombreado
Para criar o novo contorno, agora
menor, e ocultar o antigo, Leonardo da Vinci recorreu a seus sombreados
característicos.
Metamorfose
A transformação do rosto foi a
operação mais complexa da pintura final. Evidências científicas mostram que as
sombras do rosto foram feitas com camadas de velatura, uma tinta translúcida.
Cada camada de velatura continha
bem poucos pigmentos do mesmo tipo, e seu efeito em conjunto servia para
aumentar a aparente saturação da cor e a profundidade do retrato.
Imagens LAM destacando vários aspectos da transformação facial.
Sobrancelhas
A aparente ausência de
sobrancelhas na Mona Lisa sempre
incomodou os historiadores da arte, pois Leonardo da Vinci era conhecido por
prestar muita atenção aos detalhes ao desenhar ou pintar, até o último fio de
cabelo. Todos os seus retratos, tanto os desenhos como as pinturas, ostentam
cílios e sobrancelhas.
Isso também é válido para a Mona
Lisa, com a descoberta de suas sobrancelhas em imagens multiespectrais
realizadas em outubro de 2007.
Isso demonstra que as sobrancelhas recentemente descobertas de fato pertencem à Mona Lisa, e não ao Retrato de Lisa Gherardini original.
O Véu “Inventado”
Depois de transformar o rosto e o toucado, Leonardo da Vinci teve que ocultar o vestido de Lisa Gherardini, ou pelo menos torná-lo irreconhecível. Então, ele inventou – no mais fiel sentido da palavra – um véu para cobrir a cabeça, os braços e o vestido, o que lhe permitiu mudar a direção dos ombros.
Os historiadores da moda há muito
sustentam que o véu de Mona Lisa não
tem precedentes: um véu desse tipo nunca esteve na moda, nem sequer existiu. De
fato, nenhum véu desse tipo foi observado em outros retratos do período.
Todas as evidências indicam que o véu de Mona Lisa não passa de uma criação oportunista: um artifício para a transformação.
A Mão Esquerda
Com o advento da técnica LAM,
conquistamos importantes avanços em nossa compreensão da Mona Lisa. Um dos maiores mistérios que agora pode ser solucionado
é o posicionamento incomum de suas mãos.
Agora entendemos que isso reflete
a decisão de Leonardo da Vinci de abandonar sua ideia original – a mão esquerda
segurando algo nos joelhos – para evocar, ao contrário, um estado de espírito
calmo e relaxado, como retratado no rosto sorridente e sereno de Mona Lisa.
Os dedos indicador e médio foram
repintados em uma posição ligeiramente mais alta, e a mão direita foi retratada
em completo repouso, para transmitir essa aparência tranquila e relaxada.
Você poderá ler todos os artigos referentes a Leonardo da Vinci e Mona Lisa clicando AQUI.
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